Carmina Gitana
Carmina gitana
Deusa gitana
Envolta em vermelho
Cabelos revoltos
E flor entre os seios
Que bailas qual louca
Qual as castanholas
Olhando nos homens
Com olhos de cobra
Que mordes e matas
Enquanto os afastas
De pele morena
De coxas miragens
Teus peitos oásis
Me trazem o deserto
Quando me rejeitas
Oh dentes tão brancos
Quando me sorris
Aponta-me olhares
Cheios de ardis
Balanças os braços
E bates os pés
Pisando nos olhos
Que em vão se atiram
Enquanto a guitarra
Vibra ardentemente
Queimando o ar
Que arde inclemente
Plantando desejo
No chão do meu peito
Vermelho igual brasa
Furando o espeto
Rompendo-me a carne
Tragando-me a alma
Oh, Carmen, tão linda
Pintura de abismo
Não há quem não dance
Buscando teu ritmo
A boca mais rubra
O sorriso inocente
A tua virilha
É um pasto indecente
Teu passo e compasso
Se marcam em meu peito
Me pisa, me morde
Se queres, aceito
Não pisco ou engulo
Nem penso encantado
Com a fúria que gritas
Sobre o tablado
Que espancas c’os pés
Feliz miserável!
Abrigando tua dança
Furor incansável!
A turba de machos
Se agita também
Batendo as canecas
Iguais as idéias
Que pairam além
Milhares de rosas
Jogadas ao chão
Que pisas e chutas
Nos olhos que não
Enxergam mais nada
Além da emoção
Que riam e dançam
E choram até!
No peito que explode
Gritando: Olé!
(Djalma Silveira)