Além do amor-presente

Além do amor-presente

Se tem que me deixar, que vá agora

Abrigue-me esta sombra, onde não veja

O meu olhar que, incontido, implora

Chorando ao ver o quanto o seu lampeja

Lampeja a radiação de um novo amor!

Contido pela culpa e pela pena

De mim, aquela que, em quarentena

Encena p´ra conter tamanha dor

Encena não morrer da dor do fim!

Fingindo não sabê-lo desde o início

Temendo perceber que tudo, enfim

Termine como nós: um desperdício

Amá-lo – sei – me veio como um vício

O vôo insano, o vão de um precipício

Na febre que acendia com seu beijo

Tão frágil, a trama urdida no desejo

Cobriu-me da ilusão mais convincente

Que só sangrando os olhos logro ver:

Não há outro amor além do amor presente!

E se o passado permitisse antever

Teria amado mais e mais intensamente

(Djalma Silveira)