Perda de tempo, falar do amor!

Perda de tempo, falar do amor!

No burburinho diurno,

ouço sua voz a cantar Corcovado,

E, quando o grilos protestam silêncio,

No meio da noite, desperto

Com versos cheios de amores por ela.

Ontem colhi duas flores:

Uma p´ra mim,

Outra p´ra ela.

Coloquei-as num vaso pequeno,

Onde, em meio ao azul

Voam brancas gaivotas.

As tenho diante de mim.

Dois delicados sonhos de amor

Dispersando um odor delicado,

Que ninguém neste mundo mais sente.

Não neste mundo sem Tom e Vinícius,

Que não sabe quem é Billy Joel,

O do amor instantâneo

Que se toma com refrigerante!

Onde não mais embriagam a música

Nem a poesia, nem a dança.

Que desconhece o barato de um beijo!

Que perda de tempo falar do amor

A quem nem desconfia se o sente,

Pois não vem numa caixa,

Não tem manual, ou qualquer garantia!

É, também não tem validade.

Perda de tempo procurar.

Que perda de tempo falar do amor

Se poema nenhum o comporta

Não quando tão imenso, concreto e intenso

Como o que sinto... dentro de mim agora.

(Djalma Silveira)