Deixaste-me, e deixo-te esquecida

Ah, coração, quantos desenganos

Nesta amarga vida juntos encontramos.

E deles, tantas lágrimas gotejaram

Destes olhos ainda orvalhados.

Agora, tu me deixaste...

Oh! Mulher dos meus sonhos — tu me deixaste,

E aqui fiquei,

Perdido em meu mórbido penar.

Tantos sonhos que tive — desfeitos agora...

As esperanças do futuro — todas mortas...

Restam-me as mágoas

Do amor que a ti a alma dedicara.

Onde errei?

Por que resolvera partir neste momento

Em que pensava ter me encontrado...

E o porto onde pudesse ancorar,

Finalmente avistado?

Não adianta o meu cismar!

Nada mais importa à vida...

Já não tenho aonde chegar.

Minha batalha foi perdida.

Ah! doçura! As noites passei

Com o pensamento preso em ti,

Mas hoje, nesses dias que chegam rápidos,

Somente penso em fugir.

Acordei chorando,

O sonho teve fim.

Não, não me importam as lembranças,

Se todas elas são voltadas a ti.

Ponho sobre meu corpo

O manto negro do desgosto...

Vou vagando a esmo – penando,

Entre os caminhos meus – todos insanos.

Oh! mulher dos sonho esquecidos,

Sim, tu partiste levando contigo

Todos os sonhos puros

Que essa alma minha, outrora carente,

Depositou no teu encanto;

As ilusões que creditei em ti.

Agora não me resta nada,

Nem lágrimas nos olhos — enganados.

Tenho somente cinzas envenenadas...

Do meu cigarro em vão queimado.

A minha alma, agora calada,

Não anseia por vida,

Tampouco pela morte...

Ficou tão incompreendida

Que se julgou sem sorte.

Doce foi o sonho,

Mas cruelmente despertei.

Molhado, suado, tremendo e arruinado.

Não estavas ali – era uma sombra do meu lado.

Deixaste-me. O que fazer?

Hei de continuar minha vida

Sem ter ao lado meu

Aquela que um dia quis bem.

Tu me deixaste e eu te deixo,

Deixo-te, de agora em diante, esquecida,

Como uma antiga carta perdida.

Longe, querida, das vistas de quem

Desejou te amar!