Tuas Cartas

Reli tuas cartas. Estavam lá

Tão displicentes, olhando-me, chamando-me.

Pareciam querer dizer algo que já sabia...

Lá estavam elas, incomodando o meu ser,

Dando luz ao meu penar.

E diziam-me elas, todas as cartas

Que a alma minha calaram em pranto.

Nos momentos de total desencanto

Chorosa crença pairava.

Nas nebulosas do amor, sorria ao encanto,

Diziam-me elas palavras de ternura

Que intumesciam da terra às flores,

Ao palor que me encobria o canto.

Tua letra delicada, trêmula às vezes,

Dizias palavras doces que agora me faltam

A cingir a pele de rubor e medo.

E lágrimas penosas dos olhos saltam tristonhas,

Fora o princípio em letras e o fim...

Em ranhuras... onde falha a tinta,

E rasga-se a seda.

Lá estavam as malditas cartas tuas,

Tinham os olhos negros a me fitar.

Censuravam os meus desejos mais puros,

Na austera crença de um beijo calar.

A voz em desespero manifestava-se louca

Em minha mente vaga...

Lá permaneciam...

Imóveis, tuas cartas.