Eu, Uma Caiçara...

Sobre as àguas do Rio Araguaia.

Quando amamos somos tomados por uma

fragilidade

que estende em nossa alma

e agimos com a inocência

e inconseqüência de uma criança,

e toda a incredulidade passa a ser esperança…

A realidade é resguardada no meu recôncavo

o coração sangra,

e uma torre de silêncio se ergue na planície dos

meus olhos,

esconde vorazes segredos

lentamente invade minha alma,

como a canoa que singra o Araguaia…

O barco colorido distancia singrando

as turvas águas e levando meus sonhos a deriva…

e no côncavo da translúcida e inesperada

partida

sepulcro no náufrago espelho d?água meus

reflexos perambulando;

deixei um rastro de perdidas ilusões

perdidas pétalas

como oferendas lançadas ao leito

e levadas pelos Orixás

talvez um dia chegarei a Xambioá…

Minha face despida

pelo negrume da partida

resignada, permaneço,

apenas com o olhar aceso dos curiosos

atentos

acenando com rubros lenços

e de lágrimas se faz mar minha felicidade…

Um trôpego silêncio

e o clamor áspero implorando, contempla

um breve regresso…

No créspuculo estranhos risos rompem

a triste tarde que tênue esconde

o efêmero pouso solitário da andorinha

andarilha no recôndito das grutas…

Já em Santa Cruz

as dunas brancas e leves parecem

teus seios no cio,

e da areia desabrocham virgens

com seios deliciosos de Cupuaçu;

E de suas entranhas posso extrair

o suco sacro do açaí…

A sutil arquitetura, arquitetada

milimetricamente esculpida e

desenhada explicitamente pela natureza

as águas banham as grutas

exibindo beleza,

submergindo os coqueirais

e as caiçaras de Babaçu em Babaçu

elas ouvem os gritos…

Numa fé em fábulas e mitos

elas vigiam,

o peixe-boi que rufa em seu império soberano,

e sutilmente dança um balé cigano;

as canoas cortam rio a dentro remansos e redemoinhos,

os Tuiuiús e as Garças constróem seus ninhos.

Nas margens o pescador

exila-se no negrume

enquanto lança suas esperanças insólitas

no imenso espelho d?água

com suas tarrafas e redes…

Extraindo das negras entranhas do Araguaia

seus alimentos…

E a beleza acesa da pele mística da Caiçara

a beira da praia

em seu âmago penetram suas fantasias

sua crenças e liturgias.

Então ela tímida com seus pensamentos errantes, pergunta?

Onde estará ancorado o barco que daqui zarpou,

e de porto em porto ancorou?

estará em São Geraldo, Xambioá, Santa Cruz

ou Marabá?