Confissão de uma amante

O hábito de amar-te educou-me.

Observo a tua liberdade de perto

(às vezes bem mais longe do que quero)

Não interfiro em teus movimentos

Apenas os acompanho.

Refaço os teus caminhos em meus pensamentos

Brincando de adivinhar os teus próprios pensamentos e caminhos.

Reescrevo meus cem poemas

Permitindo-lhes a mesma liberdade

Que lhe confere o meu sentir.

Sou sua amante educada.

Educada pela chama de teus olhos frios

Por tuas mãos que não toco

Por teu cheiro mesmo quando não estás.

Meu amor não é secreto

É educado, discreto.

Alojado na solidão de sonhar-te feliz.

E tenho nisso a minha própria felicidade:

Estar contigo na saudade

Estar contigo e nada mais.

Se a perfeição que me exiges mata-me

Sorrio, trago-lhe esta flor

Sei que amor educado

Nesse século nem cabe

Mas assim é o meu amor.