O HOMEM PEQUENO
 

Eu não moro no sonho alheio
Porque estou habitando o meu
Eu só habito o meu.
 

Vi um homem pequeno
Que só tinha um terno
E aparentava distinção
Muita distinção
A moradia dele era um porão
Onde ele polia e engraxava os sapatos únicos
E sonhava.
 

Eu só finjo os meus fingimentos
E finjo para mim
E acredito
Sem esse fingimento eu não existo
Pois sou muito pouco.
 

O homem pequeno
Saía todas as manhãs
De terno e gravata
Com uma pasta na mão
Distinto, cavalheiro, um gentleman
Mas ele mal sabia ler
Nunca tinha ido a uma escola
Ninguém sabia disso
Ele sabia fingir.
 

Uma mulher me amou
Durante anos
Não amou a mim
Amou o que ela acreditava que eu fosse
Eu sempre soube fingir
Muito bem.
 

O homem pequeno tinha uma amante linda
Rica, culta, da alta sociedade
Ela era de outro país
Dois meses por ano ela era dele
Mas ela tinha um compromisso
Com a morte
E morreu.
 

O homem pequeno ficou sozinho
Mas continuou a fingir
Que tinha um túmulo para visitar
Ele não tinha
Mas fingia que tinha
Não era fingimento
Esse amor.
MILIPA
Enviado por MILIPA em 23/04/2009
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