Meu Coração e Eu

Coração, porque vagueias

alucinado e crente?

Coração, porque te enleias

com amor febril e ardente?

Será que o amor, em ti,

possa ser real e terno?

Em ti, a vida sorri,

sorriso doce e eterno.

A vida, em ti, coração,

sorri, em cada momento,

em ti, a vida é canção,

em mim, é triste lamento.

Em mim, a vida é tão triste,

que até chego a duvidar,

se, em mim, essa vida existe,

ou se me estou a enganar.

Assim, vivo duvidoso

da minha própria existência,

neste campo doloroso,

onde reina a penitência.

Eu só queria ser puro

como a água da cisterna,

mas sinto-me mais escuro

que as trevas duma caverna.

( 07/09/1968)