INTENÇÃO
Na maciça complexidade dos meus sentimentos,
(que em tempo te amo, e, em três tempos te odeio)
na vez de amar me alimento da angustia castigada pelo tempo.
Lembro e esqueço, ao menos tento.
Mas há delicia de provar... enquanto há tempo.
Desfaço-me em embaraços quando entendo:
Quero gozar tua rebeldia.
Quero ouvir tua anatomia.
E beijar a tua agonia.
Do prazer ao desprezo todo dia...
E deitar em campos de pneumonia,
adubado com o estrume da minha ira.
Desfazer o penteado do meu dia.
Quero roubar a tua ironia,
e usa-la como afasia.
Na incerteza da relatividade,
desvendar mistérios da verdade.
E usar seus braços como xale,
caminhar em suas cavidades.
Encontrar a vida e a beleza,
no tumulto deixado sobre a mesa.
E servir caviar aos porcos.
Refazer a alegria dos mortos.
Não se faz jardim com uma só flor.
Não se faz mentiras com calor.
Na tristeza do amanhecer,
um anônimo a me entorpecer.
E quando esperar que mude,
ao invés de um oásis, um açude.
Nas vísceras, cor, razão.
Quando finda a emoção,
tenho outra intenção.