INTENÇÃO

Na maciça complexidade dos meus sentimentos,

(que em tempo te amo, e, em três tempos te odeio)

na vez de amar me alimento da angustia castigada pelo tempo.

Lembro e esqueço, ao menos tento.

Mas há delicia de provar... enquanto há tempo.

Desfaço-me em embaraços quando entendo:

Quero gozar tua rebeldia.

Quero ouvir tua anatomia.

E beijar a tua agonia.

Do prazer ao desprezo todo dia...

E deitar em campos de pneumonia,

adubado com o estrume da minha ira.

Desfazer o penteado do meu dia.

Quero roubar a tua ironia,

e usa-la como afasia.

Na incerteza da relatividade,

desvendar mistérios da verdade.

E usar seus braços como xale,

caminhar em suas cavidades.

Encontrar a vida e a beleza,

no tumulto deixado sobre a mesa.

E servir caviar aos porcos.

Refazer a alegria dos mortos.

Não se faz jardim com uma só flor.

Não se faz mentiras com calor.

Na tristeza do amanhecer,

um anônimo a me entorpecer.

E quando esperar que mude,

ao invés de um oásis, um açude.

Nas vísceras, cor, razão.

Quando finda a emoção,

tenho outra intenção.

Cris Roseno
Enviado por Cris Roseno em 15/05/2006
Código do texto: T156867