Tua morte me alegrou

Aquela tarde foi de dor; teus olhos trincados, vidros quebrados teus olhos eram.

Da noite interrompida, da fadiga não dormida, do algoz , teu próprio amigo.

Sim pisada a tua pele. Manchada, púrpura profunda. Sulcos em teu peito. Calado.

Um cravo murcho ao sol, que defumava teu lençol, a pele. Desça, se podes!!!

Tua mandíbula, um portão solto. Tua tez , um desafio envolto. Teu suor era só sangue.

Como pode este maldito, ser tal qual havia dito? Se o perfume que exala é de morte?

Como então admirar um cadáver planador; como pode tu que és rei; como pode tanta dor?

Maldito! Isto és. Teve o mundo aos seus pés, e agora, aí. Teu pagamento.

De que adianta Tua horda, sua miríade de criados; se Tua dor te atormenta ; se não te podes mover?

Aquela tarde...

Foi suor de cima abaixo, sangue quente qual riacho, rente à pele amorenada.

Não, não eras de beleza, nem tua formosura me atraíra. Nem mesmo teu vigor.

Meu imã foram teu olhos, trincados qual vidro, embargada tua voz.

Silencioso e profundo.

Os corvos já planavam sob um sol de fulgor agudo. E você mudo, mudo...

Teu silêncio foi meu grito, tua sujeira meu colírio.

Eu e você . Lado a lado. Minha pena merecida, mas a tua...a tua...???

Não queria que teu olhos me vissem assim...

Não queria... não mesmo!

Quero que te lembres de mim. Gostaria mesmo. Não como um torpe.

O que disseste? Eu?

Me convidas ao teu reino , hoje?

Sim, aceito teu convite. Te verei hoje, quando chegarmos. Lá poderei curvar-me melhor.

Obrigado!

Minhas chagas te amaldiçoam, mas meu lábios , o contrário!

Sim, aceito, majestade, o teu convite! Te vejo , num piscar, hoje mesmo..., no teu reino!

Marcelo Naconeski
Enviado por Marcelo Naconeski em 06/05/2009
Reeditado em 13/10/2009
Código do texto: T1579131
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