"O Rouxinol e a Rosa" (Ode a um amor infinito, mas impossível)

( O Rouxinol e a Rosa )

Numa tarde qualquer dum fim de ano medieval

Preparava-se uma festa que sem "ela" certamente seria sem sal

Mas não seria festa, se minha amada não fosse meu par...

Ouvi dela mesma que uma rosa, rubra e viva seria a condição

Para tomá-la pelas mãos

E a noite toda em seus braços dançar...

Pensei cá comigo tratar-se de amor

Tamanhas eram a ansiedade e calor

Que insistiam em me inundar...

Todavia olhava ao redor procurando

E só encontrava meu pranto

Pois a Primavera tardaria chegar...

A tristeza que se fazia presente

Fazia de minh'alma indigente

Só pelo medo da rosa jamais encontrar...

Mas mesmo que a neve me fizesse magoado

O Rouxinol quietinho aqui ao meu lado

Resolveu então se pronunciar:

- Para que queres uma rosa neste inverno sem flores?

Respondi: - Para fazer de minha amada a rainha das cores !

- E com ela a noite toda bailar.

Foi então que num ato inesperado

Meu pequeno amigo alado

Pôs-se no céu a voar.

Foi em busca da rubra rosa que eu tanto queria

Em função duma tal alegria

Que a dias viu dissipar.

E voou por toda Viena, foi ao Norte e ao Oeste

Percorreu todo Sul e o Leste

Mas nada da rosa encontrar

Retornou para casa abatido e cansado

Percebeu que eu seu amigo: um coitado!

Jamais iria se consolar...

Saiu então feito um louco incitando o jardim:

- Dêem uma rosa para mim !

- Só uma ! Sei que há de brotar...

E cansado posou sobre um galho bem seco

De uma roseira quase morta e esquecida num beco

E calou-se a descansar...

Descansando o Rouxinol colocou-se em oração

Para Deus pediu perdão

Por não poder ajudar...

Foi aí que ouviu um gemido

Indecifrável tal qual um grunhido:

A velha roseira se pôs a falar !

- O que queres nobre passarinho,

...Que há tempos saiu do seu ninho

E pela Áustria cansou-se a voar ?

- Quero uma rosa bem rubra, escarlate,

Daquelas de bastante quilate

Pro meu amigo à sua amada ofertar...

E a roseira pensando a solução

Não viu outra opção

Do que aquela que muito iria custar...

- Rouxinol meu caro passarinho

Ponha-se com o peito contra o meu maior espinho

A fim do teu peito furar...

- Como sabes, sou velha e moribunda

Muito embora com uma vontade profunda

De uma só rosa te dar.

- Não tenho mais seiva, sequei por dentro e por fora

Mas se fizer o que te peço agora

Com teu sangue ei de vingar.

Sem pensar nem só um segundo

O Rouxinol permitiu ferimento profundo

Passando à roseira inundar

Com o sangue do Rouxinol

E o advento dos primeiros raios do tímido Sol

A roseira se pôs a brotar...

Mas era cálida a rosa nascente

Ainda muito diferente

Daquela que eu precisava entregar...

Preocupada com o insucesso então

A roseira implorou: - aperte teu coração

A fim de mais sangue me dar !

E com a morte do passarinho

Embora bem devagarinho

Em rubra e bela, a rosa pode então se tornar,

Conforme caía ao chão o nobre Rouxinol

Surgia dos céus um raio de sol

Que pela fresta da janela fez-me acordar

Pude finalmente vislumbrar minha rosa

Primaveril, esguia e formosa

E uma morte que não podia evitar

E cuidei para que fosse apanhada

Com zelo e cuidado embalada

Corri à minha amada entregar

Que da rosa fez pouco caso

Fazendo do sentimento um ocaso

Difícil de superar...

Uma pedra lapidada: um brilhante

Uma ametista, safira , diamante

Ou quiçá um colar...

Presentes dum príncipe também interessado

Em ter ao seu lado

Meu utópico par.

E ela sem dó ou piedade

Mostrou não amar de verdade

Àquele que a quis presentear

Com uma simples rosa, criação divina símbolo da vida

Vida esta agora perdida

Que não há mais de voltar.

Morri por dentro

Enterrei meu coração na lembrança

Daquele que me deu esperança

De um dia vir a amar...

...Pra mim, ao menos

Certamente...

Não valeu a pena.

Rodrigo Augusto do Prado

Rodrigo Augusto Fiedler
Enviado por Rodrigo Augusto Fiedler em 02/07/2009
Código do texto: T1679006