Apelo
A mim dedico essas pequenas linhas
linhas de anzóis, raciocínio e tricô
feitas de diminutos sonhos, sombras, enfado
Enfim a minha pouca literatura, o meu muito pensar
em cores e coisas sutis, passando ao largo.
Da minha loucura restaram novelos de lã embaraçados
frascos de vida a dois, cartelas de tédio...
Vidro quebrado formando em cacos o mosaico daquilo
que sou, ou antes, imagino ser.
Um ou dois versos escritos em dor
Dor compartilhada nos espasmos de prazer enganoso.
A verdade insinua-se em cada traço esquecido no abraço
daquele que ainda virá.
Paisagem fosca de um quadro pintado sem força
O vaso, a mesa, pratos e copos. Lençóis em branco
e preto que tornaram-se de um cinza esmaecido.
Anéis, que me fizeram Sra. Sobrenome já se derreteram
e hoje enfeitam um pescoço encarquilhado talvez.
Onde as cores, onde o barulho, onde o lufar do vento...
onde a vida se escondeu?
Dá-me um sinal, acende aquele último fósforo e acena!