BOCA DE LEÃO*
Amo e amando me escondo
Procurei-me nas dores práticas:
Nas chuvas enigmáticas,
nas ruas vazias, nos porões,
nas poesias.
Procurei um atalho, um vão
de mormaço, um coração de aço
que sucumbisse aos delírios.
E na brancura dos lírios ouvi
os vermelhos e na loucura dos
risos apalpei meus desejos.
Amo e amando me exponho
Procurei-me na terra molhada,
na pálpebra pesada, nos poemas
celestiais que se curvam perante
as noites.
E na loucura dos filósofos
desenhei-me por dentro
Rasguei minhas folhas,
ouvi meus silêncios
Amo e já nem sei se é tempo
Amo e já fechei as janelas
Amo esse livramento que chove
em lilás minhas flores amarelas
Procuro a valsa sem dores
que tire os meus pés do chão
Que entenda os meus dialetos
que beije-me sob todos os sóis
e todas as bocas de leão.
Eu preciso aquecer-me
enquanto há vento...