Na mesma fúria

Desejo-te na mesma fúria

Com que rasga meu coração

Quando em prantos afoga minha razão

Na mesma fúria que arremessa o travesseiro

E o encharca com teu pranto inteiro

Desejo-te como quem tem fome e sede

E cede aos instintos mais vorazes

Na mesma fúria de quem desnuda o peito e grita

O grito silencioso da dor da falta

Na mesma ânsia de qual toda ganância do mundo

Não pode saciar

Nem em sonho podereis pensar

Esta fúria em desespero

Desespero, gemo, sussurro e canto

Para que o mundo morra de espanto

Com a fúria com a qual te desejo

Veio-me um lampejo de te dizer isto um dia

Não foi numa manhã fria, e nem poderia ser

Foi numa noite quente

Que em teus lábios ardentes

Minha fúria louca acabou por se perder.