A PAISAGEM DA JANELA
Sentada em frente a minha janela
Esperando sempre a vida passar
Como uma eterna sentinela
Vigio os barcos no mar a navegar
A onda em seu eterno vai e vem
O som das gaivotas a revoar
E a minha mente está muito além
Da paisagem que reflete o meu olhar
Navego por mares longínquos
Divago além do azul do oceano
Temo o tempo e com ele os vincos
Marcas que surgem ano após ano
A imagem quase sempre igual
É o oposto dos meus devaneios
A paisagem linda e transcendental
Não ascende a chama dos meus anseios
Sou mar sem sal e vento sem brisa
Um barco solitário sempre à deriva
Procurando nas esquinas perdidas
Algo que dê um sentido a minha vida
Em minha mente vejo em branco uma tela
Onde desejo pintar outra paisagem
Pois a que contemplo da minha janela
Não traz para junto de mim a tua imagem
De que me serve o azul desse mar
O céu límpido e o cantar do bem-te-vi?
De que me serve o luar sempre a brilhar
Se meu mais lindo sonho não está aqui?
Almejo pintar em minha vida uma tela
Não precisa ter céu azul, tão pouco mar
A paisagem que desejo ver da minha janela
É sua imagem refletida no brilho do meu olhar