AMOR
Amor:
canção, poema ou sentimento,
o que és tu, afinal, ou quem és?
És, por acaso, a saudade que fica,
o olhar mudo e expressivo
ou simplesmente o bater do coração?
És tu a alegria que chega de repente,
o sofrimento que destrói o espírito,
a nostalgia,
a recordação,
a vida?
Amor:
és tu o sol que beija a natureza,
o pássaro que canta,
a flor que desabrocha?
És tu o murmúrio do mar
molhando as areias na praia?
Quem sabe o vento na janela,
a imensidão,
o silêncio,
o desencontro?
E o fogo que crepita na lareira,
a noite que se esvai lentamente?
E o frio que invade a alma,
o ser que chora,
o homem só?
E a estrela brilhante
perdida no espaço,
a nuvem passageira,
a chuva fria varrendo as ilusões?
Amor:
és tu o homem inseguro
transformado em indivíduo
na multidão?
És tu o pregador cansado de falar a esmo?
És o marginal,
o velho inválido,
a mulher abandonada?
És tu o pranto silencioso
da criança órfã,
a ansiedade nos olhos do mendigo?
E a liberdade tão sonhada
dos encarcerados?
E o sonho de paz
dos guerrilheiros anônimos?
És tu a melodia que invade a noite
e se perde num lamento,
a mão trêmula que se estende
numa súplica vã,
o pedido de socorro do náufrago solitário?
E a caridade que conforta,
o conselho que orienta,
a lágrima que enternece?
És, talvez, a dor da despedida,
o desejo não realizado,
o pensamento que se perde na distância,
o desespero de não ter?
E a felicidade,
o sonho,
o encontro de duas mãos?
Amor:
quem me dera te decifrar,
te esmigalhar entre meus dedos
e chegar ao âmago de tua verdade!
Quem me dera te sentir,
te tocar,
te possuir!
Amor:
palavras... idéias...
podes ser tudo isso,
podes ser... nada,
mas tu existes!