Boneca de pano
Boneca de pano, largada da vida
Como um engano profano a reinar
Já foste amada, idolatrada
Mil gentis mãos a te embalar
Das roupas de fino trato, sobraram farrapos
Dos lustrosos sapatos, pés de lama traz
Quebraram contigo o infante contrato
Brinquedo antigo esquecido estás
Assim como ela, que pede cuidados
Meu coração angaria afeição
Bem sei como sentes a triste questão
De ser mais uma vítima da desilusão
Foram-se os anos de nossa gloria fugaz
Dos dias felizes, de cantar e dançar
Boneca de pano és como eu, a lembrança
Da infancia fugidia da criança
Fomos ontem, da Vida, o valioso par
Hoje somos lamento de solidão a chorar.