NAQUELE DIA

Naquele dia
Ninguém parecia querer perceber
Que uma flor estava sumindo
Que um sol estava indo
Que alguém precisava de alguém
Mas ninguém apareceu.
Eu não sabia, eu não sabia.
Que em algum dia você apareceria.

Naquele dia
As nuvens estavam se acumulando
Os cantos estavam se calando
Os seres estavam se fechando
As crianças estavam chorando.
E eu não sabia, eu não sabia.
Que em algum dia eu te encontraria.

Naquele dia
As portas se fecharam
As luzes se apagaram
As pessoas se calaram
Os céus trovejaram.
E eu não sabia, eu juro que não sabia.
Se eu soubesse que você existia
Naquele dia, uma porta eu abriria.
E eu te amaria, eu juro que amaria.
Pois as estrelas iriam brilhar.
As pessoas iriam falar.
As crianças iriam sorrir.
As nuvens iriam se abrir.
Uma chuva cairia.
E molharia cada flor, que renasceria.

Mas agora a tempestade já desabou.
Eu já te encontrei.
Mas de que adiantou ?
A porta sozinha se abriu.
E o sonho que eu tinha
Sonho continuou.
Porque os sonhos continuam sempre e sempre ?





(São Paulo, avenida Guapira, Tucuruvi  -  14 de outubro de 1975)