PENAS

Tenho pena

de não ter penas

e asas,

penas fortes e sedosas

numas asas vigorosas

sulcando todos os ares.

E não apenas as penas

nem as asas...

Tenho pena de não ser

uma gaivota

muito calma

e muito ousada

libertada

dominando

terra e mar.

Tenho pena

de não ser uma gaivota

p’ra voar

na noite da tua insónia

e penetrar no teu quarto

e pousar sobre os teus ombros

e em teu peito repousar.

Tu ias adormecer

com as minhas penas suaves

o teu corpo a acariciar,

com cantigas

murmuradas

em voz rouca,

soluçadas

azougadas.

Aconchegada por ti

ao teu peito,

amada p’las tuas mãos

sentiria nessa noite

orgasmos no coração.

E quando o dia rompesse

e eu tivesse de voltar

tivesse de te deixar,

então em grito pungente

numa revolta de amor

e num quebranto de dor

haveria de ter pena

de ter penas p’ra voar.

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 26/08/2006
Código do texto: T225495