Fato Fardo
Aquele sorriso passageiro que agora faz morada em meu rosto, antes tão tristonho, insiste em persistir.
Acho que é amor.
Meu peito oco, agora exulta uma emoção puramente nova e desconhecida, seria felicidade?
Ainda chove lá fora, ainda tá frio aqui dentro, mas setembro chegou, uma flor está para nascer.
Ninguém me liga, lógico que o telefone não tem nenhum motivo para tocar.
Volto para o papel na tentativa inocente de continuar a escrever, mas a emoção que antes se concentrava na folha branca para compor esta poesia torta agora perpassa meu ser, e amar começa a doer.
Assusto-me ao receber a constatação nunca antes imaginada, é amor o que agora preenche o espaço oco em mim?
Apavoro-me.
Não sei mais em que acreditar: na verdade inventada nas fabulas novelísticas que supervalorizam um sentimento agora tão meu, ou em mim, que agora vivenciando o fato fardo de estar apaixonado pelo nada, que se caracteriza para mim, tornando um ser palpável.
Decepciono-me quando busco dele, o nada, o primeiro beijo de amor verdadeiro, antes tão esperado, e tudo o que consigo é sentir o sabor de minha própria boca seca de desejo.
Então desisto de amar...
É quando constato que ele, o nada, ainda de pé a me observar. E percebo que apesar de tudo, ele, o amor, ainda não desistiu de mim.
Surpreendo-me.
Fato trágico.
Hudson Eygo