Fato Fardo

Aquele sorriso passageiro que agora faz morada em meu rosto, antes tão tristonho, insiste em persistir.

Acho que é amor.

Meu peito oco, agora exulta uma emoção puramente nova e desconhecida, seria felicidade?

Ainda chove lá fora, ainda tá frio aqui dentro, mas setembro chegou, uma flor está para nascer.

Ninguém me liga, lógico que o telefone não tem nenhum motivo para tocar.

Volto para o papel na tentativa inocente de continuar a escrever, mas a emoção que antes se concentrava na folha branca para compor esta poesia torta agora perpassa meu ser, e amar começa a doer.

Assusto-me ao receber a constatação nunca antes imaginada, é amor o que agora preenche o espaço oco em mim?

Apavoro-me.

Não sei mais em que acreditar: na verdade inventada nas fabulas novelísticas que supervalorizam um sentimento agora tão meu, ou em mim, que agora vivenciando o fato fardo de estar apaixonado pelo nada, que se caracteriza para mim, tornando um ser palpável.

Decepciono-me quando busco dele, o nada, o primeiro beijo de amor verdadeiro, antes tão esperado, e tudo o que consigo é sentir o sabor de minha própria boca seca de desejo.

Então desisto de amar...

É quando constato que ele, o nada, ainda de pé a me observar. E percebo que apesar de tudo, ele, o amor, ainda não desistiu de mim.

Surpreendo-me.

Fato trágico.

Hudson Eygo

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 15/07/2010
Código do texto: T2378605
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