Outubro Acordado.

Um carro desgovernado corta a rua, e me deparo comigo mesmo perdido dentro de você.

Feliz.

Teu olhar curioso alucina-me.

Ironicamente feliz.

Ponho-me a observar-te, e fico chocado, congelado, a perceber-me em você.

A estranha sensação de ser resgatado por um alguém a quem nunca supus alcançar um dia, fere-me com a dor do espanto.

Um furacão no sensível estômago ulceroso.

O fervor da situação desperta-me para um mundo tão real, que prefiro dormir novamente, E talvez... Quem sabe? Nunca mais acordar.

Suposições.

E o carro; o olhar; a felicidade, não passam de ermas palavras sonhadoras, plantadas em mim.

Caminho pela sala e sento nos degraus da escada, é madrugada de lua nova apontando no escuro do céu, e temperada pelo frio sereno.

Um foco de luz se aproveita da falha no cortinado na janela para inundar a sala.

Vejo luz.

Eu também estou acessível. E não tenho feito objeções, a não ser as mesma e velha de outrora, claro. É que sou viciado em mesmices... Evitar tais manias provocaria quem sabe, uma abstinência de ser eu, o que segundo o horóscopo do almanaque, não seria recomentado esta semana.

Terei uma semana promissora nas finanças... Já que estou desempregado, devo esperar, e tenho tempo suficiente para isso.

E eu, que em ambições, aspirava ser apenas eu mesmo, agora caminho para isso. Porém do contrário ao que supunha, tal condição leva ao infinito extremo do termo, e vejo-me caminhando para o nulo, o inusitado, o infinito, para eu.