Mar Profundo Abismo

A poesia me deixou sozinha.

Só tenho gritos, grunhidos

que não sei transformar em palavras.

Tudo o que era som emudeceu.

Da beleza, as cores, ora envelhecidas,

se desconectou o viço.

Do veludo fez-se o espinho,

da robustez definho.

Ficou apenas a vontade de não ser.

Da luz do nosso encontro, amor,

se encarregou o breu.

O amor agora, antes um profano santo,

se tornou um monstro

que me tortura e alucina.

Custo a crer num mundo como este.

Mundo desventurado

em que o amor,

de tão frágil, morre fácil,

num mar profundo abismo.