Escrevendo de amor
Quando se escreve firme
Pode sangrar cada letra
Pois a vida é canhestra
E dela não posso eximir-me
Não fujo, logo escrevo
O sangue corre pela minha dor
Porém, faço o que acho que devo
Em nome do meu amor
O amor ou a dor, qual é mais forte?
Só uma poética questão...
Para os que sofrem do coração
Sem temer a vinda da morte
A vida é torta, mas a morte é certa
Será que a morte corta o que a vida aperta?
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Sem resposta, a escrita segue sangrenta
Um punhal nas costas...
Uma boca que grita...
E uma alma cega ainda agüenta...
Cega e burra, pois crê ainda haver
Beleza na poesia que se pode fazer
Nos momentos da vida, os mais feios
Como se os fins justificassem os meios
Cega e burra, porém, não muda
Teima e não se mantem calada
Insiste no choro triste de quem foi mal amada
Por outra, sem defeitos, apenas surda
A vida é quietude, a morte é barulho
Há orgulho na vida em se morrer com virtude?
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O que faço se perde como um balão de gás
Solto no espaço, a não se encontrar jamais
Somente para teus olhos que não me podem ver
E pra teu coração de aço que não merece bater
O sangue de cada letra desce à terra
Se infiltra na água das fontes
Fora das vistas, dos horizontes
Habitará sob as montanhas e as serras...
E assim a morte viverá
Ou a vida morrerá, dá igual
Letras como entranhas sobre um pedestal
É coisa que ninguém o verá
A vida é choque, a morte é paz
Só quem vive a morte, morre o que a vida faz
Márcio Gualberto