MADRUGADA

Desperta para a vida, vem me saborear,

Pois o sól preguiçoso acorda devagar,

Como uma criança que dormiu serena,

E derramando luzes, apaga a escuridão.

Um manto de névoa aos poucos se dissipa,

E gotículas de orvalho parecem até jóias,

Pois faiscantes brilham até se derreterem,

Diante do calor que vai tomando espaços.

A saracura madrugadeira acorda o sitiante,

Alertando que no entardecer a chuva virá,

Parecendo seu canto dizer num estribilho,

Quebrei treis potes de um soco só.

A araponga assanhada vivendo solitária,

Solta seu canto que ecoa muito distante,

Como se numa bigorna soltasse sua fúria,

Num protesto contra quem lhe assusta.

O curió lá no alto do galho onde se equilibra,

Emite gorgeios que o homem tanto aprecia,

Ávido pela presa que ainda tem liberdade,

E num áto traiçoeiro prende na gaiola pequena.

O joão de barro sem vaidades para exibir,

É o arquiteto que constrói sua nova morada,

Com caprichos que nem o homem é capaz,

E depois de pronta busca sua namoradinha.

E lá no alto do morro bem na colina distante,

O nhambú chitã pia parecendo assustado,

Quem sabe em protesto pelo que já antevê,

Pois o homem não respeita sua quentinha morada.

O sabiá laranjeira que já desperta sorrindo,

Solta o trinado gostoso que todos apreciam,

Pois silencia a mata que desperta muito devagar,

Como a saldar um novo dia cheio de belezas.

E depois num turbilhão de tantas sonoridades,

Pássaros saem em revoadas estonteantes,

Buscando alimentos para os filhotes esfomeados,

Sabendo que a natureza lhes deu incumbências.

Assim a madrugada desperta para um novo dia,

E o sól vai iluminando as trevas ainda relutantes,

E quem viveu na noite serena a cadência do amor,

Revigorado está para cantar alegre e saber sorrir.

05-11-2010