C'est ma vie, c'est ma vie...Eu vi as nuvens negras e senti a frieza

Acordei com uma vontade imensa de escutar essa música de Salvatore Adamo. O que é a vida? O que é o amor? Essa é a indagação comum à humanidade. Viver plenamente é sentir tudo com intensidade. A nossa visão é tão infinitamente curta da vida, tão limitada à nossa realidade pequena, que se desejamos algo grandioso, acabamos por sofrer uma crise interna, a ruptura com o que vemos, cremos e podemos fazer. Será que é a vida que faz o amor, ou o amor faz a vida? Shakespeare perguntou isso no passado, e eu me pergunto hoje. Será que existe algo terreno que seja sublime continuamente? Ou a felicidade é apenas um estado passageiro, e a sua duração é apenas a brevidade de dizer adeus dentro de um trem, e dura apenas de uma estação à outra? A vida mais fácil de ser suportada é aquela em que não se pensa nisso, e simplesmente é vivida, até chegar aquele dia em que seremos reduzidos ao pó, e não haverá nenhuma lembrança nossa na mente de alguém. Mas eu penso, e sinto a angústia de perceber que o amor é uma dádiva e uma ilusão ao mesmo tempo. E podemos nos sentir maravilhados e iludidos muitas vezes na vida. E com a força que podemos amar, podemos desprezar o que amávamos, porque nada dura para sempre, pelo menos não da mesma maneira. E noto que a vida, esta sim é um mistério, porque não sabemos o que o amanhã trará, não sabemos o que poderemos escrever nas linhas da vida, não sabemos quais sonhos serão realizados e quais desistiremos de sonhar. Talvez alguns sonhos, com o passar do tempo, achemos ridículos, como aquela roupa que não sabemos porque usávamos no passado. E o mais interessante é que o que é motivo de nossa dor hoje, se amanhã tentarmos lembrar, não conseguiremos, e isso é o que venho percebendo, que realmente nada dura para sempre, nem o amor e nem a dor. Nem a alegria, nem a tristeza. E todos os outros paradoxos que se possa usar. A memória, que nos faz lembrar as grandes ocasiões, também se encarrega de ir apagando-as, pouco a pouco. E o motivo de lembrar-me da música de Adamo, "J'ai vu des nuages noirs, j'ai senti ta froideur". Eu também vi as nuvens negras e senti a frieza. E essa é a minha vida, a minha história, as minhas espectativas, minhas vitórias e fracassos, e minha vida não é diferente da vida de qualquer ser humano que habite essa terra (talvez alguns não habitem realmente este planeta). Precisamos acender uma fogueira, e jogar fora todo o passado, e continuar na eterna busca de algo maior e mais sublime, de algo precioso e maior, nunca nos contentar com menos, mas com os pés no chão devemos entender que a beleza da vida reside na transitoriedade, e que o mais transitório pode ser o próprio conceito que nada dura para sempre, e a magia é esperar que eu esteja errada. Na fogueira devemos jogar as nossas falhas, nos perdoar, que é mais difícil a perdoar quem nos magoou de alguma forma. E esperar que ocorra o que me disse um Promotor, certa vez, lá no MPPE: "coisas melhores virão".