Discagem

Sentado, perdido nos pensamentos

Lembranças dela, das quais nem mesmo participo

Memórias gravadas ou inventadas

As palavras que eu não disse e desejaria ter dito.

E não mais que em um relance

Fito no momento a única coisa que aliviaria:

Um telefone antigo, sobre a escrivaninha

' - Por que não?', penso logo

Logo também me vejo com receio

Me aproximo, o pego, me escondo do mundo.

Por um segundo me sinto incapaz.

Disco lentamente os números já decorados

O som da discagem me aperta o peito

Me transbordo de alegria e medo

Me vejo envolto em adrenalina e deleito

Fim da discagem e ouço dois sons,

Duas simples repetições,

Nada mais que dois 'Tum-tuns'.

Em meu ouvido é constante um deles

Metálico, elétrico, frio e sincronizado.

Em meu corpo todo percebo o outro,

Meu desejo pulsa meu ser, agoniado

Aguardando ansioso o fim da espera

E por fim se cessa o meu suspense.

Uma voz já conhecida surge dizendo '- Alô'.

Por fim, minha alegria me domina um instante,

Em outro instante o pavor me absorve

E ponho fim ao que comecei, covarde.

Me debato, me culpo, me exalto,

E nesse momento, neste instante exato

Me encorajo e recomeço a tortura do princípio

Não aprendendo a lição, ou não querendo este fim

Aconselho a mim mesmo: 'Carpe diem...'

E aconteça o que acontecer, quando ela tornar a atender

Não desligarei, e darei o melhor de mim.

Wyllian Neo Dalla Valle
Enviado por Wyllian Neo Dalla Valle em 03/12/2010
Código do texto: T2652043
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.