As Mãos da Artesã
Minha poesia é abstração
Letras confusas em total borrão
De modo tão controverso e difuso
Que as palavras se esbarram
E rezam, discursam, calam.
Ás vezes nuas e sem fala.
Certas mãos
(certamente não as minhas)
Exibem, ébrios de paixão e loucura,
Dedos escultores de pequenos milagres
Artelhos dotados de estrelas
Palmas que evocam encantamentos.
Botões, rendas, cetins, fitas
Em dobraduras impensáveis
Em costuras impenetráveis
Caixas, tintas, pincéis, feltros
Ruminam formas místicas
Retratando o sonho da artesã.
As mãos da artesã
Escutam, decerto, algum segredo
Contados à noite pelo luar
Pois ao nascer do sol
Seus dedos trabalham a alegria:
Unem e cosem retalhos e trapos
Dão forma à magia com seu olhar
Pintam o drama
Dão forma ao canto
Esculpem a alma
Colam almas e corações
Como quem respira, vive e morre
Pelas próprias mãos.
E, num acasalamento da Vida com a Arte
Depois de gestação inspirada
Parem a beleza de seus filhos:
O fruto formado de sua emoção.
"Ser artesão é amar com a imensidão dos céus o belo, a novidade e o inacreditável através das ferramentas do coração, sempre pensando no alegrar daqueles que admiram a dádiva da vida"
Walber Nunes