Sincero
Para que saibas como eu era.
Eu era um desses homens fadado a procurar venenos para combater os venenos de dentro.
E você me chamou de amante profissional.
Eu era desses homens que não existiam mais
Que acreditava na sinceridade de um amor.
Romântico, mas não desses românticos utópicos que separam as salivas dos beijos.
Eu acreditava no amor, mas também nas decepções.
Eu me corrompia, era canalha porque era moda ser canalha, sobre o meu coração que perdido não entendia.
Eu era um sobrevivente – disfarçado sob essa gente fria.
Eu acreditava na dignidade, no caráter, sob essa covardia, esse medo de estar na contramão da humanidade desumana.
Eu me perdia mais e mais para curar a ausência da mulher da vez, sina de quem já não amava a vida.
Procurei por uns versos, como um viciado que procura a sua droga.
Cabeça turva, olhos lacrimejados, procurei por Pasárgada.
E pouco depois que a vida já havia novamente me encontrado. Em que a casa já estava limpa. Em que a mobília era toda minha. Em que enfim eu não era uma mentira. Você chegou – você já não corria nenhum risco.