Minhas mil lágrimas

Uma, duas, três lágrimas brotaram

De meus olhos ontem a noite

Vieram como disparos

Machucando como açoites

Água salgada, dolorida

Surgiu num momento tão profundo

Que pensei que era a vida

Se esvaindo para o outro mundo

Essa dor custa a passar

Não diminui, não dá descanso

Me persegue a todo canto

Em minha alegria a minar

As gotas lembram a fraqueza

Do não saber me defender

De um ataque a minha fortaleza

Ou de áspera palavra a dizer

Elas são pedaços visíveis

Desse buraco negro e cruel

Formando crateras terríveis:

Vulcões com lava de fel

Hoje as lágrimas da face a descer

Como cacos de minh’alma

Secam como sal e morrem

Só não levam meu sofrer

Essa amargura sem tamanho

Que sinto hoje em meu peito

É força por si só tão estranha

Que nem sei reconhecer

Mas um fato, com certeza

(e não adianta correr)

Uma pequena parte de mim

Com a lágrima veio a morrer.