UM TANGO, UM REENCONTRO...

Eu só te olhava de longe,
teu porte eu admirava,
e os teus gestos graciosos,
sensuais e sinuosos,
no salão, me provocavam...

Dançavas como se a vida
fosse feita só de sons,
flutuavas na harmonia
que teu ser todo envolvia,
como arco - íris de tons...

De repente me dou conta
que te diriges a mim...
Dispara meu coração,
domina - me a emoção,
pois que notaste - me, enfim...

Com uma voz sedutora,
convidas - me, gentilmente,
a ir contigo dançar;
sentindo a voz embargar,
levantei - me, tão somente...

Acenas para a orquestra,
que diligente, o atende,
e num repente, no ar,
ouço um tango a soluçar
sons que a alma apreende...

Quando me tomas nos braços,
principiando os volteios
dessa dança sensual,
sigo teus passos, e qual
os teus, faço meus meneios...

Segue a dança, deslumbrante,
nas evoluções crescentes...
Nossos corpos enlaçados,
nossos rostos já colados...
Não é, o beijo, um acidente...

Tu sentes o meu perfume,
sinto o que exala de ti,
como que embriagados,
nos aromas misturados,
nos domina um frenesi...

Profundamente me fitas
e murmuras, docemente:
Não fujas de mim, não mais,
sejam sempre assim, reais,
sonhos que eram, tão somente...

Por sobre nós, os cristais
dos lustres a cintilarem,
ao redor, porém mais nada,
somente nós, como ilhadas
almas, a se reencontrarem...