Espiga de Milho

Eu ainda nem era menina feita

E já aprendia o segredo da colheita

No verde da esperança eu via tombar a terra e surgir um milharal

Com meu pai dizendo nunca nessa vida seja mesquinha e nem a ninguém deseje o mal

Eu tinha desejos e ilusões de menina nova

Mas semeava com amor e cheia de sonhos cada cova

E o broto rachava a terra crescendo robusto

Enquanto meu corpo tomava forma e o primeiro sutiã emoldurava meu já vistoso busto

E o milharal crescia imponente demais

Com ele também se tornaram longos os cabelos da moça de Batatais

A plantação se revezava entre a chuva e o sol

A cada manhã eu acordava mais dengosa e me esparramava sob o fino lençol

Surgem as primeiras bonequinhas de milho de cabelos coloridos

Minha inocência me protegia dos perigos

Surgiam uma , duas , três

Transpirava carinho mais meus lábios se calavam por timidez

O grãos de milho cresciam depressa

Pareciam ver nos meus olhos negros uma promessa

Assim formavam-se as espigas que sempre apontavam para o céu

Durante a carpina o sol deixava morena a pele de Raquel

Colhendo milho verde na chuva para fazer curau

A roupa grudava no corpo evidenciando as curvas como se o pecado fosse natural

E eu corria livre pela braça do eito

Já transbordava de amor a terra virgem do meu peito

E na hora de amarrar a cinturinha da pamonha

Eu baixava os olhos cheia de vergonha

Sonhava com o cupido

Desamarrando no meio do milharal meu modesto vestido

E me deitando no chão

Ouvindo as batidas do meu meigo coração em meio ao silêncio da plantação

Fica para trás mais um janeiro

Tem noites que ainda molho de lágrimas meu macio travesseiro

Mais o amor e o milho sempre hei de semear

E cada vez que eu ver o milho granar

Uma mulher mais digna e romântica eu hei de me transformar

Quando a maturidade a mim chegar

Serei como uma espiga de milho que lentamente vê sua palha secar

Mais sabe que sua semente será para a outros pés de milho germinar

Antes quero sentir na pele o que é amar

Sentir as mãos no meu corpo como a uma espiga de milho a se desnudar

Encher os olhos d'água sem medo de sentir dor

E em meio ao milharal descobrir de verdade o que é o amor...

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 31/01/2011
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