O Peso do Silêncio
Jamais me acostumei à solidão do silêncio
A esquivar-me de medos, ou do mais soturno segredo
Que fere e reflete a insegurança, a desconfiança.
O silêncio me dói.
Sei ser muitas, sei ser várias
Sei ser mil ombros de consolo
A amparar dores e rancores
A costurar e remendar amores
Mas a impotência me cala.
Diante de teu silêncio.
Não me angustia o frio da noite
Mas o trancar da palavra-açoite.
Teu olhar sinuoso me fere como seta
E, sem sair do alcance da vaga névoa do segredo,
Sobrevivo fugindo do meu mundo
(de falas vibrantes, de soltos os amantes)
E me curvo diante do teu.
Entrego-me ao teu jeito, teu afeito, teu tempo
Esperando que talvez a fagulha do vento
Traga a memória que te tanto padece
Junto com a brisa, que de leve te aquece.
Quero-te inteiro de formas, de corpo, de alma
Quero-te em paz, e não sorrindo por fora
Quero-te mandando o medo embora
Te guiando por dentro, a calma
Com a alegria que a verdade confere.
Porque teu silêncio te fere.
E tua dor é a minha
Tua angústia me fez vizinha
E a cada passo teu, atrás o meu estará
A esperar que de teu silêncio
Seja breve o despertar.
Esperarei.
Cada dia, todo dia
A cada mês, sem qualquer engano
Em cada sorriso, durante todo ano.
Sempre. Para sempre.