Caminho Vazio

Desmanchei a trama da Nossa História

Como linha perdida de lã que não aquece

Desfiando, assim, o novelo da memória

Como quem se despe.

E senti frio.

Esvaziei a Taça do Nosso Amor

Deixei jorrar precioso líquido ao relento

Desdenhando frescura, doçura e sabor

Como quem resseca.

E senti sede.

Lancei ao vento migalhas de saudade

Para que em outro solo florescesse

Tornei estéril a terra de minh'alma

Como quem agoniza.

E senti fome.

Vazia de sentidos caminhei

Por entre as falhas de minha Sorte

Procurando por outro rumo, outro norte

Sussurando poesia como quem ora

Aguando olhos como quem chora

Na lama da estrada que percorri

Perdi métrica, sonho e razão

Subsidiei loucura, entrega e emoção

Deixando rastro vago de perfume:

O que sobra, o que resta, o que rasga

Abri meu peito em arroubo infantil

Descobrindo a causa do desassossego vil:

O tempo, tirano, acalma e mata

Com violência do gatilho e o silêncio da faca.

Olhei e cá dentro...

... o coração frio.

Olhei à frente e o caminho

...estava vazio.