AH, MINHA AMADA...
Ao te ver deitada, de bruços, em sono,
vem à minha mente os dias de abril,
nos quais nos encontramos e dizemos
coisas que nos fizeram sofrer.
E o que era doce se acabou...
Já não me amas (ou dizes não me amar)
e finjo que a vida pode prosseguir
sem a tua presença, o teu senso
de ritmo e poesia.
No entanto, entro no quarto
e te encontro assim, tão livre,
tão mulher, e me dói
ter errado tanto.
Ah, minha amada, eu minto.
Digo que já não te quero,
mas, ao te ver assim,
tão lassa, tão fêmea, tão vida,
desejo estar de novo
nos teus meandros,
sentindo a tepidez de tua pele
e o teu cheiro.
Minha mão estendo,
penso em te tocar.
Mas, acordada, trazes os desafios
de abril novamente.
E morremos lentamente
mentindo, escondendo
um tão possível amor.