AINDA AMAR
Tento fugir do óbvio,
mas não sei como.
Enredo-me e te procuro
na memória, no celular.
Ligo e escuto a tua voz,
que repete o triste discurso:
acabou.
Falo a ti de minha esperança
e te confessas cansada.
Resisto ao sofrimento, tento
sorrir de alguma tolice,
mas a verdade é que meu mundo se esfacela
diante de ti.
Acabou,
repetes.
E a vida, tão rica em cores e sentidos,
se torna um reiterado não saber.
E as cinzas me cobrem:
rosto, corpo, pensamentos.
Sigo amando.
Agora só, sem rumo, sem paz.
Sigo.
E o que há com esse amor,
que não teve força para suportar
tão duras palavras?
Pelo menos um poema
ganhou sentido.
Uma música me deu novas harmonias.
Tento ser outro:
mas o mesmo amor de sempre
revela a mim o quanto
sou frágil.
Uma festa me chama?
Não sei se aceito o convite.
Odeio essa liberdade
que a vida me mostra!