Ilustre Fim
O calor das palavras que não precisam ser ditas, pela certeza do momento antes tão esperado, casado com a ansiedade dos corpos juntos, só vinha confirmar o que o coração já sabia, e sentir saudade dói.
A dor da saudade, reconfortada com a presença inesperada, fere com a agonia da felicidade do estar, do ter, do gostar.
Olhos fechados, um mergulho profundo e o morrer. Ainda não me havia ocorrido pensar nessa passagem, mas agora que ela se encontra aqui tão perto, tão próxima a mim, se torna inevitável o ilustre fim. Mas não o da morte em si, e por si mesmo dita, mas o da passagem, da mudança e da continuidade que o morrer sugere.
Não há como evitar!
E tentar me opor torna-se, de certa forma, mais doloroso ainda. Então nada me resta a não ser render-me tão esperançosamente a este mal que promete ser minha redenção.
Fecho os olhos e abro os braços. O aprofundar da respiração é a calma que aquieta meu coração... É um pouco como mergulhar num poço fundo, caindo por milhares de anos, sem jamais encontrar o chão. Com o passar do tempo, você já não é você.
Esse outro você é diferente agora e, de alguma forma, não tem pressa de abrir os olhos, para acordar. E ele fica ali, caindo sem pressa de aterrissar. O mundo acontece lá fora, mas não importa, já não faz nenhuma diferença, porque o mundo agora é pequeno demais para a imensidão na qual você se transformou.