Puro enleio

Quando das rosas de setembro a primavera renascer

Quando a gaivota sobrevoar, beijando, a praia,

Quando as andorinhas se aninharem nas gardênias do jardim

Quando o trevo florir a sombra da perfumada dama da noite

Quando rescender das camélias a fragrância

Quando seus pés descalços tocarem a relva

Quando seus cabelos soltos em torpor de brisa

Quando seus lábios em sabor de gomos açucarados

Quando em contraponto com a viola sua voz tartamudear canções

Quando o sol que anuncia a aurora declinar em poente

Quando na noite fria você abrir a porta do orquidário...

Quando sua pele encontra a minha e se arrepia

Quando neste toque ausento-me do que sou

Quando as mãos que se procuram, nos dedos estreitados ficam presas

Quando o olhar adivinhando a vida...

(Santo Deus! Como fascina ver-se no espelho dos olhos da amada)

Quando a carne entrando na carne se consome com sede e fome

Quando na sedução de um puro enleio

Quando nenhuma palavra mais alcança

Eu, navegador-navegante, descobridor, menino peregrino, humano flagelado

Descubro-me amante transformando-se em amado!