Volta, coração

Eis aqui, retiro de meus bolsos

Pétalas de tulipas que busquei

Além mar, além dor, além de mim

De meu alguidar ofereço

Musgo da pedra de Andrômeda

Verde esperança frente à morte

Deixo a teus pés fria água

Da fonte eterna de León

Feito Vida que escorre entre dedos

Trago flores das bodas de Helena

Madrepérola da concha de Afrodite

Néctar doce do Olimpo

Pão do céu, maná e mel

A Caixa de Pandora

e seus mistérios.

Essas coisas são isto: são coisas

Que, vago, distribuo aqui, ali

Dando algo a cada um

A quem for considerado por mim

E do meu peito, a pequena carne

Tão abjeta, viraram-lhe as costas

Tão ínfima diante do que eram

Belos presentes colhidos no Tempo:

O que trago no peito, reservo (por hoje).

Um dia hei de dá-lo a quem

Assim como eu, souber amar

E de corpo vazio amarei ainda mais.

Hoje não.

Hoje só digo:

"Volte, coração, volte pro peito

Bate aqui, bate forte, direito.

Ainda não chegou sua vez

Para tua voz ainda não há pleito"