Plural
As vezes me pergunto
se quando eu for um defunto
vou esquecer quem até hoje amo.
Verbetes sem graça
me fazem até dormir na praça
e rosas choram como proclamo.
Nada é tão comum
mas eu sou só mais um
que resolveu encara a vida de frente.
Sou um maestro sem sinfonia
um palhaço sem alegria
e um amante frio e não quente
Sei que nunca me quis de verdade
mas confesso sinto saudade
de quando me olhava com ternura.
Alguns dizem pena,
mas mesmo assim valia a pena
sentir ao menos um resumo de sua doçura.
O que resta
são lembranças de alguém que não presta,
alguém com quem diariamente convivo
eu mesmo em meu oceano
amo você mas não me amo
de mim mesmo me esquivo
Como se fosse fácil deixar pra lá
se o que quero é boca minha na sua tocar
mas sei que não me é permetido
nasci pra não viver plenamente
nem sei se sou gente
pra mim tudo é proibido
Não sei se sei alguma coisa aqui
talves saiba tudo o que já sofri
depois de ventos vem o temporal
O óbvio me assusta
e aminha alma muito custa
em acreditar no plural.
Apenas DEUS pode ser ao mesmo tempo três
e dessa vez
tenho que me superar
pra esquecer um rosto esguio
um amor imoral, amor vadio
que insiste em me assombrar