Plural

As vezes me pergunto

se quando eu for um defunto

vou esquecer quem até hoje amo.

Verbetes sem graça

me fazem até dormir na praça

e rosas choram como proclamo.

Nada é tão comum

mas eu sou só mais um

que resolveu encara a vida de frente.

Sou um maestro sem sinfonia

um palhaço sem alegria

e um amante frio e não quente

Sei que nunca me quis de verdade

mas confesso sinto saudade

de quando me olhava com ternura.

Alguns dizem pena,

mas mesmo assim valia a pena

sentir ao menos um resumo de sua doçura.

O que resta

são lembranças de alguém que não presta,

alguém com quem diariamente convivo

eu mesmo em meu oceano

amo você mas não me amo

de mim mesmo me esquivo

Como se fosse fácil deixar pra lá

se o que quero é boca minha na sua tocar

mas sei que não me é permetido

nasci pra não viver plenamente

nem sei se sou gente

pra mim tudo é proibido

Não sei se sei alguma coisa aqui

talves saiba tudo o que já sofri

depois de ventos vem o temporal

O óbvio me assusta

e aminha alma muito custa

em acreditar no plural.

Apenas DEUS pode ser ao mesmo tempo três

e dessa vez

tenho que me superar

pra esquecer um rosto esguio

um amor imoral, amor vadio

que insiste em me assombrar

Donatello Abrantes
Enviado por Donatello Abrantes em 22/12/2006
Código do texto: T324923