CANTATA DOS AMORES DESUNIDOS

Eu bem sei que partireis outra vez

Nossos encontros são como eclipse

Que aparecem uma ou outra vez

Logo sucedendo um apocalipse

Quando penso que criou raízes

Nosso delicado enxerto de amor

Logo o devasta novas crizes

Sem deixar marcas no lavrador

Por quê? Mil vezes por quê?

Procuro sem conseguir achar

O motivo que faz morrer

O que tinha tudo pra brotar

Eu bem sei que voltarás

Pois incrivelmente partindo

Sempre voltas atrás

Para me amares, mentindo

E eu, incapaz que sou, aceito

As migalhas desta paixão

Como um cão, contrafeito,

Deixo cair os restos no coração

E dançamos como se fosse festa

E falamos da nossa tristeza,

Repentinamente, tudo se empesta

De mal-humor, de rudeza

O último beijo não tem o mel

Do primeiro e quando nos abraçamos

Na hora da despedida, o céu

Já não é o mesmo de quando chegamos

Nos olhamos resignados

Diante de um mal irremediável.

Ficamos tristemente estagnados

Diante de um mistério tão insondável!

Este mistério que repartiu

Vidas intrinsecamente unidas

Nossa convivência destruiu

Deixando incuráveis feridas

Ainda vai nos aniquilar

Vosso orgulho inútil, querida,

Pouco a pouco ireis deixar

De ser minha preferida

Que o impossível de acontecer

Vai acabar finalmente acontecendo

Que é eu deixar de te querer

Você vai acabar me perdendo.

Aracati-Ce., 29 de setembro de 2006.

André