A FORTIORI
Leio no ardor de teu semblante
Expressões intensas de amor retido
E com mais razão, em todo instante,
Vejo em teus olhos um paraíso proibido
De tantas coisas simples e tão belas
Que nem sei contá-las ou descrevê-las
Usando letras trêmulas e tão singelas
Das palavras transfiguradas em estrelas
Que rasgam céus, pulam janelas
E dançam, incautas, ao som dos tempos...
Meu amor, eu nem sequer conheço
Um terço de todo o espaço do coração
Mas sei dizer as coisas que não têm preço
Sei voar nos ventos que sempre vão
Levando esperança de sul a norte
Como se fosse possível dizer, então
Que no interregno entre vida e morte
Sempre existe sorte plantada em chão
Dos sonhos que o tempo rega
Sem quaisquer dolos de colisão
Com princípios que o destino nega
No vago termo entre o sim e o não...
Sim, meu amor, talvez eu nem conheça
A sombra avessa da solidão
E com mais razão, quiçá eu não mereça
Nem um átimo de tua atenção
Mas lendo em teus lábios esta enxurrada
De vagos versos em profusão
Sinto-me, assim, um tanto condenada
A decifrar em meu coração
Um mapa cujos trechos levem
A encontrar uma mina de verdadeiro ardor
Na qual todos os versos bebem
Em cálices de sonhos o melhor licor
Pois, no fim de tudo, o que vale a pena
Nesta vida, às vezes, já tão sem cor
É o êxtase de cada emoção amena
E com mais razão, o mais sublime amor.