[e escrevo-te sem nereidas]
Apresentando O Transversal
" La Folie... sempre me lembro de ouvir o mar..."
Escrevo-te sem reler-me,
sem me aperceber da aurora que luta com as trevas querendo romper o véu de umas estrelas que cintilam como velas sopradas pela brisa de outono,
sem me aperceber das saudades,
quero o sol de verão refletindo num azul inventado um azul mesmo esbatido sem graça mas que representava um imenso mar que guardava alguns malmequeres numa ilha deserta,
sem querer relembrar-me,
das tempestades que cruzavam o mar deserto e que transportavam o nevoeiro como se o temor dos navegantes regressasse e os fantasmas ocupassem o espaço o tempo,
sem compreender os silêncios,
como se alguns ecos fossem apenas pensamentos fugidios que se mantinham presentes em gritos expulsos pelas sombras que decoravam as paredes do quarto.
…
Escrevo-te sem saber
se o teu olhar se cansou,
de tantas as viagens, de todos os acenos
de adeus no cais,
das promessas afogadas,
do cheiro a canela, sempre
presente.
…
Liberto-me da âncora presa no fundo onde tantos se afogaram sem luta por respirar um suspiro que fosse ninguém saberá quantos quanta a aflição quantos os sonhos em ver apenas o nascer do sol numa terra coberta de rochas sem os rangidos da madeira molhada.
E escrevo-te sem os solavancos
das ondas que espumavam como os
dementes,
…
e escrevo-te sem nereidas
por perto,
sem as fantasias das palavras,
uma rosa quer-se vermelha,
um sol habita na tua mão,
uma lua habita na tua face,
sempre assim será,
…
sussurro o teu nome,
nesta última vez...
…
eu, regresso-me ao mar,
que me habitará,
sempre assim será.
…
planto algumas ilhas no fundo dos mares,
onde as habito,
assustando as baleias que se querem,
sossegos.