[e escrevo-te sem nereidas]

Apresentando O Transversal

" La Folie... sempre me lembro de ouvir o mar..."

Escrevo-te sem reler-me,

sem me aperceber da aurora que luta com as trevas querendo romper o véu de umas estrelas que cintilam como velas sopradas pela brisa de outono,

sem me aperceber das saudades,

quero o sol de verão refletindo num azul inventado um azul mesmo esbatido sem graça mas que representava um imenso mar que guardava alguns malmequeres numa ilha deserta,

sem querer relembrar-me,

das tempestades que cruzavam o mar deserto e que transportavam o nevoeiro como se o temor dos navegantes regressasse e os fantasmas ocupassem o espaço o tempo,

sem compreender os silêncios,

como se alguns ecos fossem apenas pensamentos fugidios que se mantinham presentes em gritos expulsos pelas sombras que decoravam as paredes do quarto.

Escrevo-te sem saber

se o teu olhar se cansou,

de tantas as viagens, de todos os acenos

de adeus no cais,

das promessas afogadas,

do cheiro a canela, sempre

presente.

Liberto-me da âncora presa no fundo onde tantos se afogaram sem luta por respirar um suspiro que fosse ninguém saberá quantos quanta a aflição quantos os sonhos em ver apenas o nascer do sol numa terra coberta de rochas sem os rangidos da madeira molhada.

E escrevo-te sem os solavancos

das ondas que espumavam como os

dementes,

e escrevo-te sem nereidas

por perto,

sem as fantasias das palavras,

uma rosa quer-se vermelha,

um sol habita na tua mão,

uma lua habita na tua face,

sempre assim será,

sussurro o teu nome,

nesta última vez...

eu, regresso-me ao mar,

que me habitará,

sempre assim será.

planto algumas ilhas no fundo dos mares,

onde as habito,

assustando as baleias que se querem,

sossegos.

Nkisi
Enviado por Nkisi em 08/12/2011
Reeditado em 08/12/2011
Código do texto: T3378358
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