::: AMOR ::::

Você que lê com seus olhos claros,

Os meus escuros olhos lacrimejados,

Atenta-te também,

Que na sua meiga pela clara e adocicada

Não habitam os emaranhados cinzentos

Da minha vida solitária.

Jamais hão de perceber os teus sedosos cabelos

O meu ser de cabelos grisalhos e sem vida.

Bem disse, e, repito

Que a minha alma vive indolente e ranzinza

Sem entender (essa alma velha)

O que fazes neste corpo de vinte e um

Que exalas suas necessidades

Na fome, na sede e no desejo.

Eu procuro por “ela”

Para que minha alma enferma

Possa outra vez rejuvenescer

E sorrir no contentamento de adormecer

Encolhido sobre os teus seios,

Que receberam de mim fiel devoção,

Tanto como os teus olhos claros

E os teus formosos cachos,

Mas acima de todos; o teu coração...

Que viu mais do que essa alma de um Poeta solitário

E ainda mais do que esse ser maltratado.

Deveras que me alimento diariamente

Desta funesta e perspicaz esperança.

Eu, minha Cara, rogo-te que entendas as razões

E perceba que meus olhos estão escurecidos pela morte

Com que tanto tempo dancei crendo ser a vida,

Pois que notoriamente morria ao dar amor e ganhar traições.

Veja atentamente a minha casca cinza chamada de cútis

Adquirida na camuflagem desses prédios opacos

E, não menos justo, dos fluídos da Grande Cidade.

Isto sou eu adormecido nos cálices de vinho

E também sou eu amanhecido nas doses de uísque.

Estou só, e, por favor, não despreze o pranto que te comoves

Para que não chegue ao meu estado putrefato

Das lágrimas secretas lançadas todas as noites.

Você que lê atentamente cada vírgula,

Perceba que nos teus olhos claros,

Na tua pele reluzente

E nos teus cabelos abrasados de vida

Eu tenho feito emergir a cada dia um verso dramático,

Mas não me peças coesão, nexo ou causalidade;

Já não as tenho e não as terei

Enquanto, assim só, não alcançar os segredos de teus lábios.

Deita-te a cabeça no meu colo

E declamar-te-ei versos melhores de Drummond,

De Quintana e de Shakespeare

Para alentar as minhas mãos impávidas

No suave veludo do teu rosto.

Hoje eu não sei quem és,

Contudo, vede que te espero no segredo

De descobrir a verdade que transforma

Crianças em homens e velhos em crianças...

Não sei o teu nome,

Mas por toda vida te hei de chamar de Amor.

Ygor Pierry
Enviado por Ygor Pierry em 15/12/2011
Código do texto: T3390161
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