Êxtase III


A minha pele guardava ainda as marcas
E o cheiro do meu amado
Sequer tinha me refeito da lascívia
e do prazer imensurável
Nem alçara a liberdade necessária
Para resolver os problemas diários
Não! Não tinha ainda aquietado
o pensamento que
Revolto se atropelava em meio às lembranças
Sensuais e ternas


À mercê de imagens tão nítidas
Com o frescor
que a saudade imensa impõe ao que foi vivido
Estava eu aninhada docemente...



Quando ele me chegou outra vez.
Veio no início da tarde
Como convém à Belle de Jour.
Ah, é que o meu amado
é um bruxinho encantador
Conhece as sutilezas do amor
Sabe dos meus segredos
Dos meus quereres
Já descobriu todas as faces
Do meu prazer.


Envolta em seus braços
E entregue à sua boca
O mundo para repentinamente
De novo terei o meu Dom Juan por inteiro
Me sentirei devorada voraz e delicadamente
Mas também degustarei de todo o seu sabor.


É assim que ele me vem
A cada vez que bate à minha porta
Doce e languidamente
Meio menino, meio adulto
Pedindo colo e a mulher completa


Em pouco tempo o êxtase se instala
Avassalador sem causar medo
Inebriante
De uma beleza tal
Que a feiúra da existência
Se apaga do pensamento
Temores
Indecisão
Neuras
Culpa
Tudo se vai
E fica tão somente o êxtase de nós dois.



E quando a porta se fecha
Todos os sentidos se abrem
e nos projetam
Ao infinito do prazer
lindamente compartilhado.