Que a morte nos separe...

Que a morte nos separe ...

Corro de ti, minha cruz,

azeda e pesada cruz.

Que peso injusto,

justo, talvez.

Nada quero de ti.

Tua opaca luz,

a nada me conduz,

em mais nada me seduz,

desfaleço assim,

assim é minha cruz.

Haverá tempo de partida,

de partilha,

desse apanágio laço,

prá mim, profano,

profano engano,

sentença diabólica.

Que sentença seguir-te,

sentir teu enxofre,

viver teu vazio,

fazer-me vazio.

Ei-me vazio...

De sonhos, de venturas, também,

mas,

sonhos,

queridos,

válidos,

sossegos arranjados,

que bom que éra...

Que bom que éra,

amar de verdade,

na profundidade,

deleitar-me com espiritos confusos,

difusos,

reais, porém,

nada além,

nada melhor,

agora é desdém,

agora a desordem pior.

Pai, que amargor.

Que dissabor,

ah..., que dôr...

Me desculpe a ordem,

me perdoa a sinceridade,

vês a idade... (?)

Já descartes o futuro,

tiraste isso de mim,

demonio maldito.

Te odeio diabo maldito,

tantos desditos,

desenganos,

que engano,

que existencia bôba...

Me confundes,

me aludes,

sem luzes,

assim, arrancantes de mim a idade,

que éra boa idade,

até minha recém-mocidade...,

essa das novas tentativas,

alusivas à alma, ao coração.

Mas, a maldição é grande,

nada desfaz minha infelicidade,

é pagamento,

de pecados,

de fraquezas,

é o perdidouro de minha alma...

Vai de reto...,

não fiques perto,

me enojas,

teus verbos ásperos,

teu espirito morto,

desfalecido de sempre,

desvalido,

nem condoído,

caído na vala,

da desgraça eterna,

volta à casa paterna,

vai...

Deixa-me, por favor...,

deixa-me...,

tira-me o pavor...,

preciso salvar-me,

também meus pensamentos,

todos lentos, amordaçados,

estraçalhados,

esbagaçados.

Que fizeste comigo ?

Já é tempo vencido,

depois de nada vivido,

é tempo de sair de mim,

de novo,

de voar em alfa,

vou escrafunchar, de novo,

é-me salvação,

é-me salvação...

Depois que volto,

porque sempre volto,

sozinho...;

depois que volto,

de meus entornos,

de meus amores,

me encontro contigo ?

Verdade.

Sonho de morrer,

dormindo,

aliviado,

cantando,

quem sabe morro, mesmo...

que sonho...

Pois que seja assim,

enfim,

que a morte nos separe.

Teobaldo Mesquita

teobaldomesquita@uol.com.br

Teobaldo Mesquita
Enviado por Teobaldo Mesquita em 14/01/2007
Código do texto: T346453