SINA

O amor não nos abandona por acaso

Nem nos aflige como fantoches do destino

Que brincam, incólumes, em seu plano raso

Entoando sempre o mais brilhante hino

O amor não nos abandona a própria sorte

Mas nos condena como reféns de dores ou instintos

Que vagam entre o dom da vida e a dor da morte

Perdendo-se nos sonhos que são labirintos

Se o amor abandonasse a sua fiel essência

E fosse apenas pássaro cruzando os horizontes

Existiria menos conteúdo e mais aparência

Da liberdade que então jorra em fontes ?

Se o amor abandonasse o crucial anseio

De ser a maior parte de um fim supremo

Existiria ainda o sonho que constitui o meio

Pra concretizar a utopia de um ideal ameno ?

Quando o amor é abandonado à sua sina

E se sente plenamente órfão de esperança e fé

Toda vã matéria se decompõe sem rima

Ao perguntar à vida o que ela mesma quer

Mas quando o amor encontra, enfim, abrigo

No coração de alguém mais forte e constante

Que não se renda ao rancor de qualquer vil castigo

A vida se torna melhor, sublime, sã, triunfante.

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