Felicidades
Experimento agora um vazio tão grande quanto nossa distância.
É mesmo o gosto amargo e intrínseco da solidão, a qual você se referiu naquela noite perene, e que não me permiti acreditar. É triste o fardo, mas hoje, posso constatar a existência de tão grotesco flagelo.
Perdido agora na imensidão do meu próprio e vasto infinito ser de emoções mudas, tão sagradas e singelas, que me remetem - cada uma - a um momento nosso.
Vivo de lembranças, e sagradas memórias.
Meu peito hoje agoniza, é mais que simples saudade, é uma vontade insana da tua presença, a mim tão ingenuamente negada. Meu interior abriga emoções, que nem me atrevo a pronunciar, pois evocá-las seria o mesmo que profanar meu santuário. É que minha alma, ainda conserva essa casca intacta, cuja superfície frágil e cristalina não me atrevo violar.
Penetrar no meu eu mais profundo, não é uma tarefa simples, nem pra mim que convivo diariamente com meus temores. E meu santuário de emoções mudas, cálido, hostil e imaculado, está pestes a jorrar...
Então me permito uma lágrima, mas só uma. Porque lágrima é sinal de fraqueza. E me privo de mais esta emoção.
Privo-me desta nova emoção, assim como tenho me esquivado de novidades. Alicerço-me na rotina, como única e suficiente porta para “as felicidades”.
Assim mesmo “Fe-li-ci-da-des” porque não são minhas, tão pouco, fui eu que as inventou. Só digo das felicidades, porque elas dizem de mim. Não fosse sua existência, sagrada, rude e aterradora, eu teria hoje uma tarde normal.
Porque se há tristeza, é porque existe a felicidade.
E que ser perverso, seria capaz de criar tão grande mal?
Só não quero tocar na felicidade hoje.
Portanto, que fique ela lá, bem distante, e que não me encare com aqueles olhos arregalados de criança ingênua e risonha. Porque digo não ao riso.
Só quero experimentar o outro lado.
E me permitir ser o outro ser.
Não o que não é feliz.
Apenas o que ainda não experimentou “as felicidades”.