PALAVRAS
Nada nos atormenta mais que o medo das palavras,
Nem mesmo o pior golpe aplicado com violência.
As palavras ferem como facas invisíveis, sublimes,
Afiadas de ódio e rancor, sem nenhum perdão.
Quem delas usa tem o gosto amargo da vingança,
Sabe o lugar certo onde aplicar o golpe mestre.
São elas capazes de tirar a dignidade do homem,
Sua liberdade, sua força e estima mais que tudo.
Mas por outro lado, elas morrem por si mesmas,
E quem as fala se engasgam no argumento imundo
Do pretérito do próprio mal, escavado e relido.
Por certo, nem elas são capazes de destruir a ternura,
A alma rígida daqueles que deram mais do que podiam.
Esses sim! Utilizaram bem as palavras, como buquês de rosas,
A brandura solene a guisa de seu caráter e honradez.
Pois puderam tirar quase tudo deles, menos o amor que sentiam,
Pois esse é mais forte que qualquer palavra, mesmo que seja a palavra amor,
Pois não é o amor que nasce das palavras, mas as palavras são ditas por causa dele.