as noites são todas iguais.
É noite, o tempo fecha, a chuva cai.
E é só chuva mesmo, que cai, e que molha.
Ela procura uma válvula de escape, uma porta de saída.
É tarde agora, mas ainda é noite.
E ela não faz outra coisa. É que ela só sabe esperar.
E a esperança? Nunca vi sentimento mais cruel! A esperança lhe assombra.
E ela, agredida, se cansa! E mesmo cansada ela espera.
Porque o fantasma da solidão lhe assombra.
Ela reza a deus, um deus todo grande e onipotente, que nada pode
fazer contra a vontade dela.
E ela agora experimenta liberdade.
E a liberdade... Nunca vi palavra mais mentirosa! A liberdade parece lhe consumir.
E agora, assustada, chora.
Mas é que chove. Porque a chuva continua a cair.
E é tarde.
É mesmo noite.
Uma negritude só.
E ela tem medo... Medo? Nunca palavra mais aconchegante. E mesmo assim ela continua só.
E seu medo torna-se sua única certeza, e ela nem percebe, mas se agarra ao medo enquanto espera em seu deus.
E ela fecha os olhos.
Os olhos fechado com força, bem cerrados mesmo. Como era na sua infância.
E ela se lembra da infância, mas isso não é novidade. Ela sempre se lembra da sua infância.
E a infância lhe parece doce, doce como toda infância é, quando não se é mais criança.
E novamente ela espera, é porque mesmo sendo noite, e mesmo em meio à chuva, ainda resta alguma esperança.
E por ter esperança ela reza outra vez a um deus, que lhe proporciona alguma liberdade.
Liberdade esta que só ela mesma experimenta.
Então assustada, diante da imensidão de seu deus, que é ela mesma, sente medo, e outra vez ela chora.
Chora porque ainda é noite. Então ela cerra bem os olhos, e só se lembra de sua infância.
Porque a infância é mesmo doce.
Os olhos seguem fechados, na noite seca de significado.
Uma noite seca, um negritude só, como toda noite.
E ela nem precisa mais ver.
Porque as noites são todas iguais.
E os olhos se cansam, e o corpo desfalece.
É meio como relaxar, esquecer, esmorecer...
É também um pouquinho desistir, meio como na morte, mas não o é.
E o sono chega.